Cesar Chaves

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Defina skate

Skate pra mim é um objeto de prazer, que você usa pra se divertir da melhor maneira possível  pra você. Não tem jeito correto, não tem lugar certo, não tem área determinada, não tem dono, não tem fiscal, não tem gente tomando conta. Skate é aquele que está embaixo do teu pé e você usa como você quiser. Isso pra mim que é skate.

Campeonatos de skate

Sempre gostei de campeonatos de skate, sempre gostei de competir, nunca me dei muito bem, já tirei alguns primeiros lugares, mas campeonato pra mim eu vejo como uma grande desculpa para se reunir os amigos do skate e fazer aquela bagunça. Depois você dá aquela paradinha, faz aquelas voltas oficiais pra competir.  Mas o principal motivo de um campeonato de skate, que eu acho, (hoje em dia não, né?) é a gente ter uma boa desculpa pra se reunir.

Por que skate

Eu me lembro que era surfista, pegava onda pra caramba, naquela época tinham as revistas de surf, tinham os anúncios,  da Val Surf e Kanoa Surf,  e a gente fazia o tal do “surfinho” , que era um skate feito de patins. A gente treinava ali no Arpoador, no chão, que era pra fazer uma emulação do surf pra depois poder pegar onda. Por volta de 1976 eu morava em Saquarema,  trabalhando com encapamentos de pranchas de surf, era laminador, usava resina e fibra de vidro, e uma vez vim ao Rio de Janeiro pra comprar material e vi um jornalzinho em cima do balcão, chamado “Jornal do Skate”, do Sérgio Muniz, que falava de um “skatódromo ” em Nova Iguaçu! E eu como já tinha skate no carro, fui seguindo as direções do jornal até achar o pico. Quando cheguei lá, olhei e vi aquela pista de skate pensei: “caralho, o bagulho é lisinho, quebrando pros dois lados, sem vento e sem crowd...”  foi aí que resolvi mudar do surf pro skate!

 

Skate é estilo de vida?

Definitivamente skate é um estilo de vida, assim como o rock é um estilo de vida, assim como de repente samba é um estilo de vida, futebol, cada um “nicho” desses pode ser chamado de estilo de vida. Skate é muito mais do que um esporte, é um jeito de pensar, agir, se comunicar e interagir com o meio ambiente, isso que é legal, porque não tem uma área pré-determinada pra você praticar skate, não tem uma quadra, não tem uma linha para te conter, então isso é do caralho. E o estilo de vida do skate está totalmente ligado a essa liberdade anárquica que o skate traz.

 

Melhor coisa que skate te trouxe? E a pior?

A melhor coisa que skate me trouxe foram meus amigos e meu jeito de viver, minha opção de vida, meu jeito de ver o mundo, jeito de encarar as coisas. E a pior coisa foi eu ter que parar de andar de skate em 2017 por causa da minha saúde.
Desde 5 de fevereiro de 2017 que eu não ando de skate. Tive uma hepatite forte, tive que operar a coluna, tive uns chabus no fígado, mas estou controlando os nódulos no fígado para ver se não terei que fazer transplante.
Isso foi a pior coisa que aconteceu pra mim, não só pelo skate, mas por ter saído do circulo de amizades do skate, pois cruzava com os amigos nas sessions.
Eu trabalhava direto com skate, fiz os primeiros campeonatos de skate do Brasil, trouxemos o circuito mundial de skate pro Brasil – a 1a etapa da WCS era o Rio Vert Jam, e hoje em dia eu me vendo fora da cena é uma coisa que me traz um pouco de tristeza, mas fazer o que? Cada um tem sua época, e parece que a minha já passou. Agora são novos “players” dominando o mercado.

 

O que fazer pelo skate?

Acho que é contribuir para que o skate fique cada vez mais popular, tem gente que fica puto porque tem muita gente andando de skate, e fica crowdeando os picos!
Cara, skate é uma coisa que você faz pra você, e só porque você já anda legal, não tem essa de se sentir e agir como fiscal, dono, controlador e u k c t em relação ao skate!
Tem uns caras que andam de skate faz 2 anos, três meses, quatro dias,  cinco horas e três minutos  que se acham os donos do skate!
Skate é pra todo mundo e pra qualquer um, qualquer idade, qualquer local e qualquer terreno. Isso que é legal no skate.

 

Uma viagem que skate te trouxe?

Eu sempre fui California Boy, sempre fui para os EUA pra andar de skate, gostava pra caralho porque fui influenciado direto pela lifestyle da Califa, mas quando comecei a seguir os campeonatos do Circuito Europeu e passei a ir pra Europa todo ano, realmente minha cabeça mudou de um jeito foda. O skate é legal por causa disso, você viaja pra uns lugares que nunca imaginaria que viajaria e conhece gente que nunca imaginaria que conheceria.
E isso pra mim, não tem preço.

 

Familia skateboard

Isso é meio complicado porque tem muita facção hoje em dia, tem uns caras que acham que andar de skate em transição é só pra quem é fresco, outro que anda de street acha o não é street um saco, outro fala que longboard nem é skate.
Essa “família” do skate é muito desunida e é foda, os caras são muito para a minha cabecinha!

 

Skate ontem, hoje e amanhã.

Ontem foi do caralho, hoje infelizmente não tenho mais o skate no pé, e amanhã não sei se vou ter. Se eu conseguir um bom trabalho, onde possa gerar uma uma verba maior, começo a fazer pilates, contrato um bom fisioterapeuta para poder recuperar meus movimentos. A minha perna esquerda, que dou impulso, eu não consigo esticar legal, mal consigo vestir uma calça ou calção sem me segurar em algo ou estar sentado.
E, se de repente no futuro pintar uma oportunidade de gerar uma grana legal, vou começar logo a fazer pilates junto com um acompanhamento de bom com um personal. Aí, se der sorte, eu volto a andar de skate. Quem sabe?
Mas também tem que ver, que estou com 65 anos de idade, já está na hora de ir largando o osso.
Não dá pra andar de skate para sempre.
Foi nessa que criei a categoria Vintage, porque estava correndo com 58 anos contra os caras com 51, 52, aí não dava. Passou de 50, cada ano é que nem de cachorro, vale por 7!

Skate ontem, foi a descoberta, pessoas descobrindo como é o skate, como é que funcionava, como a gente fazia o skate andar e tal.
Depois veio o desenvolvimento das rodas, dos decks, que aqui no Brasil é chamado de shapes, veio aquela modificada no formato, até chegar a era dos band-aids, todos os decks iguais!
Você vai numa loja e tem 52.000 tipos de decks ali, 98% iguais.
 O skate “antigo” era mais focado em estilo, você fazia mais o lance de linha, era mais ligado com emular o surf. Até que chegou numa época que o skate passou a ser “manobras”, inclusive tem esse campeonato aí que os caras adoram que é o Street League, que é um campeonato que se faz uma manobra e o cara para e aguarda receber a pontuação da manobra executada! imagina um campeonato de surf, onde você dropa faz uma manobrona e sai da onda!
O skate tinha muito dessa de emular o surf, você pegava a onda no concreto, era o surf de asfalto como foi conhecido por uns tempos!
Hoje em dia, que o skate está muito focado em manobras, ou seja, se você não faz manobras você não anda de skate, o que eu acho um absurdo.
Já viu o Tony Alva ou o Salba dando Ollie no chão ou pulando escadas e descendo corrimãos?
Então eles são “pregos” pois não “manobram” segundo algumas muitas mentes de “skatistas” manobreiros!
Sente essa... “você não é skatista porque você anda de longboard”!!!
Porque não amigo? A missão básica do skater é você ir do ponto A ao ponto B da forma mais divertida possível e da maneira que quiser! É aquele papo, roda no chão, vento na cara, sempre foi isso, né? Hoje em dia, o skate na fotografia clássica do skate, o lance mais significativo é o cara de perna aberta, skate com a roda pra cima, e mandando uma manobrão. Quer dizer, justamente o contrario de antigamente, quando o cara ficava com os dois pés no skate, com aquele estilão único de cada um, e as rodas ficavam no chão!
Até costumo sacanear e tirar onda de véio ranzinza com “pô, esses caras são malucos, lugar de roda de skate, já falei, que é no chão”! Kkkkk

E o futuro vai depender muitos fatores. O lance das olimpíadas realmente vai influenciar muita coisa. É uma coisa que é boa e é ruim ao mesmo tempo. Hoje tem muitos pais que influenciam demais os filhos pra andar de skate, ficam lá nas pistas como coaches, dando aquele gás, fortalecendo, porque hoje skatista é que nem jogador de futebol, sabem que o negócio dá dinheiro, querem que os caras treinem pra poder se dar bem, e aí ficam focando em manobra, manobra, manobra, e acabam esquecendo ou nem conhecendo todo o lance da liberdade que o skate traz.


Cesinha Chaves, pioneiro nos videos de skate do Brasil e precursor do skate na TV, migrou para a Internet e lançou seu próprio canal, o Chave Mestra Videos, só com o Skate do Século XX, recheado de histórias e imagens de seu - grande - arquivo.
São imagens que remotam à 1983, oriundas das coberturas de skate que fez por mais de 30 anos para diversos programas da TV Brasileira.