Mario Raposo

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Dá para imaginar quantos jogos de roda foram gastos neste anos de skate?

Nem tem como... Mas nem tantos.  E eu parei por muitos anos.
Mas pelo menos umas 2 centenas.

 

Há quanto tempo anda de skate e como era o skate quando começou?

Eu comecei a andar em 1972. O skate praticamente não existia no Brasil. Não existia skate em nenhuma loja. Ou você conhecia algum gringo que tivesse um skate com roda de ferro ou no máximo de clay, ou voce tinha que comprar um patins, no caso, um Bandeirantes, desmontar e pregar, com prego mesmo, em uma tabua de madeira.
A primeira vez que eu vi um desses “skates”, foi uma experiência inesquecivel.
Na época, eu morava na Rua Gastão Bahiana em Copacabana. É uma rua que conecta a lagoa Rodrigo de Freitas com Copacabana.  É uma ladeira bem ingreme e era ali que a gente brincava. Estavamos brincando de pique-(alguma coisa) e vimos uns garotos descendo a ladeira com umas tabuas quadradas com esses patins pregados. Achamos aquilo alucinante e no dia seguinte fomos na loja para comprar um patins, uma tabua e pregos. Daí virou a mania da rua por um tempo, descendo a ladeira cada vez mais rápido, mas depois disso só sobrei eu andando todos os dias.

 

 

 

Quais foram os títulos conquistados durante sua trajetória e os fatos mais marcantes da sua vida de skatista?

O primeiro campeonato que eu competi, foi um torneio na Feira da providencia no Rio de Janeiro em 1974, que é inclusive considerado como a primeira competição de skate realizada no Brasil, mas eu acho que foi até um certo fracasso, porque quase não tinha ninguem competindo. Eu acho que porque não havia quase ninguem andando ainda na época. Até Junho de 1976 não houve mais nenhum campeonato, pelo menos no Rio.
Em 1976 e 1977 eu competi em muitos campeonatos de freestyle depois que a modalidade ganhou mais força por causa do primeiro campeonato Brasileiro da Quinta da Boa Vista. Ganhei todos nesse anos. Que eu me lembre, os campenatos do: Clube Federal, O Primeiro Brasileiro na Quinta da Boa Vista, Ramos, Nova Iguacu e Jacarepagua.
 Em 1978 e 1979, eu ganhei o Torneio You-Ziki, a fase do Rio do primeiro circuito Nacional (circuito Hering) e fiquei em 2o na final do Circuito.
Em 1980 eu parei de competir.

 

Voce é o primeiro campeão brasileiro de skate. Voce imaginava que o skate chegaria onde chegou?

Em termos de olimpíadas, Certamente!
O meu sonho ERA ver o skate chegar onde chegou.  Ver o skate como esporte olimpico e participar dos jogos era o meu objetivo.
Depois que fomos pro skate vertical, a gente tambem sonhava com rampas imensas para sempre testar os limites. Eu acho que o Bowlzão monstro da Wave Park em São Paulo despertou isso, e quando apareceu a mega-rampa foi outro sonho realizado, mas eu não imaginava que as manobras seriam tão altas como são hoje em dia.

 

Quem você admira no skate e quais foram e são suas referências?

Quando eu comecei, no skate pré-vertical, as modalidades mais em evidencia eram: freestyle, slalom e downhill. Eu achava todas interessantes mas a minha preferencia era freestyle. Consequentemente, as minhas referencias eram os grandes free-stylers da epoca: Bruce Logan, Ty Page e Stacy Peralta e como referencia de estilo, para mim e para o mundo inteiro do skate, Gregg Weaver. O Tony Alva ainda não estava em evidencia nessa época.
No skate atual, as minhas referencias são: Tony Hawk (para mim, o melhor skatista de todos os tempos), Bob Burnquist e Pedro Barros. Gosto muito tambem do Cory Juneau, pelo estilo e pela fluência. E admiro muito o Caballero.  Super técnico e fluido até hoje.

 

 

 

Consegue comparar o que sentia quando começou, com o que skate lhe transmite quando anda atualmente? O que ainda faz o sangue ferver

Era uma sensação incrivel quando chegava a ultima edição da Skateboarder magazine lá em casa (eu tinha uma assinatura). A gente via as manobras novas e já iamos direto para a pista treinar. E vou te dizer que rapidinho já aprendiamos e faziamos variações. 
Até fim de 1978 o Brasil não estava tão atrás dos EUA. E a gente sentia isso.
Eu me lembro que eu pensei em combinar um rockwalk (um slide entrando de frontside na parede rodando 270 graus) com um stall. Deu certo e saiu um pequeno 50-50 fakie, que ainda não existia na época. Eu pensei: Legal! Inventei uma manobra!  Passou dois meses e eu vi essa manobra “nova” na skateboarder que o Stacy peralta tinha inventado.
Eu já tenho 59 anos.  Até os meus 51 anos, ainda estava aprendendo manobras que eu nunca soube fazer. E essa ainda é a melhor sensação para mim. Mas agora, fica muito dificil.  Qualquer tombo fica mais complicado. As lesões demoram mais para curar.
Eu fico só nos meus Carving grinds, FS grinds, 50-50s, rock-an-rolls e rockslides.
Fazer essas manobras, e principalmente acertar o meu rockslide em uma piscina, é uma coisa que sempre me faz voltar pra casa satisfeito.

 

E com toda essa visibilidade que o skate atingiu atualmente alguma coisa se perdeu nessa trajetória, falta alguma coisa que existia. Voce ve alguma forma de trazer isso de volta?

Quando eu comecei, era tudo muito romantico. Tudo era muito novo, diferente. Aquela capa do Gregg Weaver dando um carving no meio de uma parede numa piscina foi uma emoção que me marcou muito. Naquela época qualquer foto de skate era uma coisa incrivel para nós.
Eu acho que eu sinto muita falta dessas novidades, dessa inovação incessante que acontecia naquela época. Por exemplo, hoje em dia é quase impossivel se imaginar uma manobra nova. O que se faz é mais na base da altura, velocidade e combinação de manobras.

 

Quais as principais mudanças que assitiu no skateboard até os dias de hoje, em termos de materiais, mercado, olimpiadas ou lifestyle

- O aparecimento do skate no Brasil.

- A criação das rodas de uretano.

- O principio do skate vertical e a criação dos shapes mais largos feitos de compensado curvado.

- A época em que o skate vertical foi banido nos Estados Unidos, o street apareceu e o estilo do skatista rebelde começou a ser criado.

- A criação do Ollie com o Rodney Mullen, não como o Alan Gelfand fazia mas com a técnica atual, que foi na verdade uma das maiores mudanças do skate criando toda a base do street hoje em dia.

- A criação da Mega-rampa pelo Danny Way e X-Games tornando definitavemente o skate em um esporte radical.

- A entrada do skate nas olimpiadas.

 

Na fase atual, quanto tempo sobra para fazer um rolê, você curti alguma outra coisa além do skateboard?

Eu hoje em dia só ando no fim de semana, geralmente na sessão com a galera old, na Poods Pool em Encinitas. Tambem gosto de jogar futebol e jogo até hoje.

 

Além de ser de skatista de alma como demonstra ser, que outro envolvimento tem ou já teve com o esporte?

Eu deveria ter me envolvido mais com o esporte, me decepcionei muito com as “panelas” que existiam na minha época e me afastei. De 2012 prá cá, comecei a me envolver mais com os skatistas old daqui, que afinal de contas eram os meus idolos do inicio da minha carreira. Hoje em dia o que eu faço sempre que posso é ir a varios eventos: Hall Of Fame Awards, Vans Pool Party e fui convidado e participei de 3 ElGato Classics.

 

Do que tem saudades no skate e no que ele mudou sua vida?

A saudade é daquele começo, daquela ingenuidade dos anos da adolescencia quando a gente sonhava.
Mas o skate mudou muito a minha vida. O skate é uma familia. E no mundo inteiro. Os meus amigos de hoje eram os meus idolos de ontem. E, também, se eu tenho um bom preparo fisico hoje, isso eu devo ao skate. É um estilo de vida muito saudável.

 

Você acha que a velha guarda é devidamente valorizada pelas novas gerações?

Aqui nos EUA, sim.  No Brasil, não.
Os skatistas americanos dão muito mais valor aos olds do que no Brasil. Incluindo os olds do Brasil! O evento do Hall Of Fame é um exemplo disso. O primeiro a entrar no Hall Of Fame foi o Bruce Logan. 

 

 

 

Uma pista que ainda quer conhecer? E uma manobra que lá no fundo, ainda quer completar?

Em 2015 eu realizei o meu sonho de andar na Megarampa na casa do Bob, mas eu ainda quero ir no Glory Hole, que é um full-pipe monstruoso secreto daqui da California e na pista de San José.
Eu queria voltar a dar alley-oops.  Eu adorava fazer essa manobra e não tive base suficiente para tentar de novo depois que voltei a andar.

 

Como lida com a parte física, faz alguma complementação esportiva ou é na raça mesmo?

Jogo futebol e faço muitos exercicios de perna e tronco na academia.
Bastante açai, whey protein e dieta mediterranea.