Guto Jimenez

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Defina skate.

Skate é estilo de vida, movimento, a melhor atividade física que eu já conheci... Pra mim, é como definir o que é estilo, cada pessoa tem a sua própria noção. É o melhor alimento pra alma que existe!

Campeonatos de skate?

São necessários pra movimentar o cenário, especialmente aqui no Brasil, que desde sempre teve as disputas como as maiores fomentadoras da cena. Recentemente, pudemos ver o imenso poder de influência de uma competição (as Olimpíadas) sobre a sociedade, basta ver o número de pessoas que passou a se interessar pelo carrinho depois dos Jogos. A despeito de tudo isso, a essência dos campeonatos continua a mesma: só provam quem andou melhor naquele momento. Não mostram quem é O melhor ou A melhor; pra isso, tem os rankings das modalidades... Resuminmdo: campeonatos são cruciais, mas não são a essência do skate.

Por que skate?

Sendo skatista desde 1975, e sabendo de tudo o que me trouxe em minha vida, a pergunta mais lógica pra mim seria: por que não o skate? É uma expressão pessoal táo forte, tão holística e tão permanente que eu penso que todo mundo deveria tentar pelo menos uma vez na vida. Não dá pra descrever, é como aquele antigo lema da Anarquia: "skate - ande e entenda".

Skate é estilo de vida?

Não há a menor sombra de dúvida quanto a isso, né não? (risos) Na real, acho que o skate é tudo aquilo que a gente quer que ele seja. É estilo de vida pra mim e também é modinha pra outras pessoas, é atividade física pra um bocado de gente, é uma opção profissional de carreira pra quem tá competindo - e diversão pra todos. Aliás, essa é a única coisa que não pode faltar, a satisfação pelo role em si, seja lá onde for. Sem se divertir, não faria o menor sentido, mas eu não sei dizer o que é isso. (risos)

Melhor coisa que skate te trouxe? E a pior?

O skate transformou e vem transformando a minha vida de tantas maneiras que, sinceramente, seria até injusto eu dizer que uma única coisa seria a melhor... Pra não fugir da pergunta, digo que é o fato de ter praticado todas as modalidades (com exceção do dancing e do longboard freestyle), sentindo as diferenças sutis e gritantes que existem entre cada uma delas. As amizades de dias, semanas, meses, anos e décadas que eu fiz nas ruas, ladeiras, pistas e quadras dos lugares que eu já fui, sem dúvida, são outro grande destaque. Conheço gente de tudo quanto é jeito através do carrinho e dos longs. Isso não term preço!

Ah, sim: a pior coisa foi o número de lesões que tive e o tempo que fiquei afastado do skate por causa delas.

O que fazer pelo skate?

Tudo o que for possível a cada pessoa, não importa o que seja. Se não for possível ajudar de alguma forma, então não impeça nem critique ninguém que queira fazer; muito faz quem não atrapalha... A gente tem que se dedicar de volta do jeito que for, até em gratidão por tudo de bom que o skate traz nas nossas vidas. Fiz um bocado de coisas, não vou nem começar a falar pra não encher o saco da galera (risos), mas cada skatista sabe de si. A partir de um momento de minha vida como skatista, achei que seria mais justo eu retribuir do jeito que fosse por tudo o que representa pra mim.

Uma viagem que skate te trouxe?

Foram tantas, por tantos lugares... Conheci quase todos os estados do Brasil e alguns países por causa do skate, aí você me quebra! (risos) Talvez aquela que tenha sido A Viagem foi a ida à Alemanha pra correr o Mundial de Münster, em 1987. Fui o primeiro brasileiro a competir no evento, justo no primeiro ano em que ele deixou de ser europeu pra virar uma competição global. Fiquei em 14o no street pro - logo eu, que era só um amador esforçado e virei pro na fila de inscrição, depois que vi o meu nome no programa do campeonato -, convivi e fiz sessão com alguns dos meus ídolos da época, inaugurei a "feirinha de Münster" com os equipamentos da No Limits que tentei vender pra Titus Skates e não consegui, fiz uma grana que me permitiu ficar mais duas semanas na Europa... Daria um bom capítulo de um livro, quem sabe um dia?

Familia skateboard.

Mais uma vez eu digo: o maior privilégio que tive como skatista foi ter praticado todas as modalidades, com exceção do dancing e do longboard freestyle - eu já não tinha mais joelhos pra elas quando surgiram... (risos) Tenho amigos e amigas em todas elas, sem exceção, e o laço que nos une é aquele shape com dois trucks e quatro rodas de uretano, não importa o formato ou o tamanho que tiverem. Tudo é skate e todos somos skatistas, isso é o que mais importa.

Skate ontem, hoje e amanhã.

Alguém precisa dizer, então que seja eu. O skate tá em todos os lugares mais uma vez, só que agora a exposição é universal, no sentido de parecer estar cada vez mais nas vidas das pessoas. Não é a primeira vez que isso acontece, embora sejam inéditas tanto a intensidade quanto a velocidade da atual fase de popularidade do carrinho. Todas as vezes que isso aconteceu antes, a gente sempre achou que "vai ser uma constante de agora em diante" - e acabou não sendo. Não quero ser um estraga-prazeres, mas é preciso lembrar que o skate passa por altos e baixos desde sempre. A minha geração, de skatistas da década de 70, já viu o skate bombar algumas vezes: no final dos anos 70, na virada dos 80 pros 90, depois dos XGames, a explosão dos longs de meados da década passada, o momento atual. Depois de todo o pico, vem um período de rearrumação; não se pode acreditar que esse boom da atualidade vai se manter "pra sempre". É preciso trabalhar pra que todas as modalidades sejam fortalecidas no presente, pra que a diversidade seja possível no futuro. O skate olímpico é tudo de bom, mas não é só o que existe.