Mauricio Campos

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Voce e teu irmão tinham uma marca de skate, SLIDE, fala um pouco sobre ela.


A Slide foi a faculdade, mestrado e doutorado que não fizemos hahahah
Aprendemos muito a trabalhar pois a economia estava a maior loucura com a inflação de 90% ao mês e como trabalhamos com o polipropileno, derivado do petróleo, tínhamos que ser meticulosos com as finanças para não pagarmos para produzir. Isso nos deu uma experiência e jogo de cintura que carrego comigo até hoje.
Meu irmão cuidava da produção e eu das vendas, tínhamos alguns funcionários e um sobrado alugado só para a Slide. Estávamos começando a fazer roupas também, camisetas e bermudas, mas com a entrada do Presidente Collor e o congelamento dos bancos tivemos que parar tudo.

Vocês deixaram o Brasil em 1990 e foram pros EUA. Como foi essa transição?


Foi exatamente quando o Collor entrou que decidimos fechar a Slide e ir para os Estados Unidos por um tempo. Não tínhamos plano nenhum, foi aventura total e deixamos as coisas acontecerem.
Conseguimos o visto com a ajuda do Daniel Bourqui, fica aqui o meu muitooooo obrigado, que conseguiu não só uma carta convite da NSA e também que o dono da Moska apresentasse seu imposto de renda e uma carta atestando que estava patrocinando nossa viagem.
Não me lembro do nome da pessoa mas fica aqui também a nossa gratidão para o pessoal da Moska por acreditar e nos apoiar.
Apesar de toda a documentação a Consul,l após apresentarmos tudo nos perguntou: vocês têm alguma coisa que prove que vocês são realmente skatistas? Graças a Deus lembramos de levar todas as revistas com fotos e entrevistas, depois de olhar ela carimbou os passaportes, imagina o alívio e a felicidade hahahahah
Saímos de São Paulo no dia 12 de Junho de 1990 com um visto de única entrada e fomos direto para Houston, Texas. Decidimos ir primeiro para onde não conhecíamos ninguém e onde tinha a Skatepark de Houston a qual tínhamos visto em vídeos.
O Daniel Bourqui também foi e nos ajudou muito nos primeiros dias pois não falávamos nada de Inglês, ele ficou uma semana e partiu para o Havai e depois voltou para o Brasil.
Saímos do aeroporto e fomos direto para a pista de skate, era cedo e nao tinha ninguem lá, o lugar era sensacional, várias mini rampas de tamanhos diferentes, um half enorme com channel e duas extensões, tudo coberto com chapas de metal, superficie que nunca tínhamos andado.
Acabamos até tirando uma soneca na plataforma e acordamos com uma mulecada chegando para andar pois era verão.
A sessão comeu soltaaaaaaaaaaaa!


Como é viver la?


É bem diferente, apesar de ser uma grande metrópole parece cidade de interior pois é uma planície e bem espalhada, você não vê pessoas na rua como em São Paulo, a não ser em algumas partes da cidade, O clima é super quente, imagina 45 graus com 100% de umidade, o verão é bruto hahahaahah
A cidade oferece uma ótima qualidade de vida com um custo baixo comparado com outras cidades. Essa também é uma cidade muito internacional e já foi considerada várias vezes a cidade mais culturalmente diversificada do país, o que é bem interessante estando localizada no sul dos Estados Unidos.

Quem eram seus companheiros de sessão? Me falou do Jeff Philips, tiveram outros?

O Jeff Phillips era de Dallas, encontramos ele uma vez em Houston e algumas vezes em Dallas quando íamos na sua pista, que aliás era sensacional.
Os skatistas de Houston e que estavam sempre nas sessões eram Ken Fillion, Troy Chasen, Brian Pennington, Dave Donaldson, Chris Gentry, David Nielsen, Jason Espesete, Andrew Smith, Frank e muitos outros que eram regulares na pista

Como você ve o skate hoje, com essa historia de Olimpiadas?


Acho sensacional, ver onde o skate atingir o mais alto palco dos esportes é realmente muito bom.
Isso traz um profissionalismo maior e muito mais adeptos ao esporte, as crianças começam muito mais cedo, as meninas e mulheres também fazem parte do cenário,
Acredito que tudo isso eleva o skate internacional pois parte da essência do skate sempre foi uma competição, seja ela entre amigos na pista, bowl ou rua local ou nos campeonatos.
Todos skatistas tentam se superar e inspirar os outros a irem além, então é só alegria.

Como vê os campeonatos de hoje? Os street league por exemplo. Perderam a essência?


Acredito que é impossível o skate perder a sua essência porque a base de tudo, com competição ou não, e aquela sessão com seus amigos, aquela descontração de tentar coisas novas, curtindo aquela música e se desafiando.
Para aprender, entender e chegar ao nível dessas competições, todos passam por esse processo, acredito que alguns foquem somente em competições e tá tudo bem porque o skate sempre foi liberdade de expressão e cada um escolhe como prefere expressar o seu skate.
O Brasil, ate um tempo atrás, era visto como o país das cópias piratas”. Essa imagem ainda existe ou já tá mais tranquilo?
Isso já passou a muito tempo, a força e o estilo dos skatistas brasileiros eliminou essa imagem.


Defina skate.

Liberdade de expressão

Porque skate?

Não sei, mas sei que não posso ficar sem.

Skate é estilo de vida?

Sem duvida

Melhor coisa que skate te trouxe? E a pior?


Me formou como adulto, me ensinou a ter determinação, paciência, me moldou como autônomo da minha vida e me deu grandes amigos e uma vida maravilhosa.
Nunca teve nada de ruim, tiveram algumas situações difíceis nas quais eu não tinha sabedoria para lidar mas com o tempo a gente entende que estava tudo perfeito, era só imaturidade mesmo.

O que fazer pelo skate?


Continuar andando com alegria, encontrar os amigos da antiga e ajudar quem esta aprendendo.
Levar o skate a lugares e pessoas que ainda não o conhecem.

Familia skateboard


Todos que participaram do nosso caminho no Brasil e em Houston.


Skate ontem, hoje e amanhã.

Vivendo com vida!