Skate: competição ou não, afinal?

Pin It

 Ah, as Olimpíadas…

Todo mundo vendo o skate dar show de manobras, de solidariedade, de amizade, etc. Tudo muito lindo, né? Com certeza as Olimpíadas fizeram um bem danado ao skate, não acham?

Pois bem, permitam-me discordar um pouquinho aqui: não! Não acho que tenha sido tudo tão benéfico assim.

“As Olimpíadas precisam mais do skate, do que o skate precisa das Olimpíadas” disse uma vez Toninho Gavião, famoso skatista e lenda viva.

E é a mais pura verdade! Nós mostramos ao mundo que é possível competir e ao mesmo tempo torcer por quem está ao nosso lado, disputando um lugar no pódio.

Até porquê, e vou deixar bem claro que essa é minha opinião, no skate o único adversário possível é tu mesmo. Sim, a missão é sempre ser melhor do que teu eu de ontem. E não estou falando só de manobras, afinal é meio impossível alguém continuar eternamente em uma crescente de aprendizado de tricks sem nunca perder nenhuma. E vocês sabem, skate é muito mais que tricks.

Então a questão é ser melhor skatista hoje do que foi ontem. Mesmo que hoje nem ande de skate, porque está voltando de lesão, porque está chovendo ou até mesmo porque não deu vontade de andar. Mas o amor pelo carrinho, pelo lifestyle não muda nunca! É nesse sentido que devemos ser melhores.

Mas alguém pode me perguntar: “certo, mas se tu está em uma competição, como não vai querer se melhor que teu adversário?”

Bom, aí entra um pouco da filosofia do que é ser skatista. Quem está correndo uma bateria comigo não é exatamente meu adversário. Pode até ser também, mas se mandar uma trick nervosa eu vou bater skate e vou lá cumprimentar depois. Meu único adversário direto continua sendo apenas eu. Se eu quero ser um competidor, e quero subir no pódio, eu tenho que ser melhor do que eu fui ontem nisto! Na equação das competições, essa é a única variável que eu consigo ter controle: minha dedicação, meu aprendizado e desenvolvimento. Os demais eu não tenho como controlar, então é simples, que ser o melhor nos campeonatos, treina muito, te esforça, sem nunca esquecer de ser skatista. Se isso te faz feliz, segue o baile!

No momento em que treinar e competir deixem de ser legal, bora ser skater for fun. E está tudo ótimo com isso. O público leigo precisa entender que existe (muito) skate fora desse mundo dos campeonatos.

O que nos traz de volta às Olimpíadas.

Muita gente conheceu o skate por ali, e acha que competir é o centro da nossa cultura, que todo skatista vive para competir.

Faz parte? Claro que faz parte, apesar de muita gente torcer o nariz para o skate olímpico. Aquele papo de que skate não é esporte e etc. Mas muitas dessas mesmas pessoas com certeza adoram assistir os X Games, a SLS, o Vans PS e por aí vai… pura hipocrisia. Mas enfim, não é sobre isso que a gente estava conversando.

Quem está entrando no mundo do skate só pensando em ser melhor que todo mundo, pensando em dominar todas as tricks e vencer todas as competições, em ter que construir um cômodo novo na casa para guardar as medalhas e troféus, bem… eu poderia dizer: nem tenta que tu não vai se dar bem, não é por aí o caminho.

Mas a verdade é que se a pessoa realmente almeja isso, e tiver uma rotina bem definida, com alimentação correta, treinos específicos e dedicação suficiente, pode ser que alcance isso tudo mesmo!

Uma coisa nós precisamos aceitar: o “atleta do skate” é uma realidade e isso não vai passar - aliás, isso já existia antes do skate estrear nas Olimpíadas.

Como eu disse antes, isso faz parte da nossa cultura. Mas não é o centro. Aliás, não está nem perto do centro dela! Porque tem uma diferença abismal entre ser skatista e ser alguém que anda de skate, e é isso que a galera precisa ter cuidado quando começa a focar demais nos campeonatos.

Claro, vão existir (na verdade já existem) atletas do skate que também são skatistas, que vivem o lifestyle, que tem o skateboarding pulsando no peito, como deve ser.

E também vão existir aqueles repetidores de manobras, que andam duros, sem nenhum estilo, e metralham 5 tricks por segundo.

Mas esses últimos, eu pessoalmente nem considero skatistas.

 



Max Rivera

Skatista oldschool, anda de skate por puro amor ao carrinho.

Criador da Lisco Skateboarding Co. e entusiasta do skate feminino. Vive o skate no seu dia a dia, entusiasta do skate for fun, antes de mais nada. Porque a base de tudo ainda é aquela session com a galera, a resenha, as risadas e a diversão.

A evolução e as tricks são consequência.

.