Quem nunca viu aquele cara ou aquela menina na rua, de camiseta da Thrasher, calçando uns Vans novinhos, uma calça chino com a barra perfeitamente dobrada e às vezes – olha só que audácia! - carregando um skate embaixo do braço?
“Poser de m3$%@, aposto que nem sabe embalar direito”
Fala a verdade, quantas vezes tu teve esse pensamento, né? Ou ouviu alguém comentar isso?
Pois para quem ainda pensa assim, eu proponho um exercício: esses ditos posers fazem com que o teu rolê piore? Fazem tu te sentir menos skatista? Vamos mais além, fazem com que fique mais difícil acertar aquela trick que tu está tentando há semanas?
Se a resposta para pelo menos uma das perguntas foi “sim”, sinto em te dizer, mas a culpa não é bem deles…
Pensa comigo, você acha que os donos da Vans ou da Thrasher estão preocupados que um moleque está usando as roupas deles sem ser skatista? Ou outra marca qualquer, usei estas pois estão entre as mais famosas e que normalmente são associadas com essa cultura de ódio aos chamados posers, que está impregnada na nossa comunidade.
Na verdade esses tais posers ajudam a movimentar uma boa parte do mercado do skate!
Para e pensa, neste mundo pós-olimpíadas, já viu quanta gente começou a simpatizar com o nosso lifestyle e quer se sentir parte dessa família?
E qual caminho mais rápido e fácil senão começar a usar roupas de marcas de skate? Isso gera um sentimento de pertencimento, de fazer parte da tribo.
E isso deveria ser algo nocivo, ruim? Não! Isso é ótimo, pois no mínimo vai gerar mais simpatizantes, gente que vai engrossar aquele abaixo-assinado que a associação de skate do teu bairro pretende entregar na prefeitura pedindo a construção de uma pista ali na praça do fim da rua. Isso também acaba gerando mais investimentos para o skate (lembrem-se: não consumam marcas/lojas que não investem no skate!!!), mais campeonatos, mais ações comunitárias, inclusive mais empregos.
Vamos fazer aqui um paralelo com outros esportes: futebol e surf (este último também pode ser colocado no balaio do skate, de não ser um esporte, mas um modo de vida). Quantas pessoas você vê na rua com camisetas de time, e que na verdade não têm a mínima intimidade com a bola?
E no surf então! Milhares de pessoas que não saberiam nem passar parafina numa prancha, mas usam Quicksilver, Rip Curl e muitas outras marcas mais?
Porquê alguns skatistas têm essa mania de encher o saco e condenar quem usa skatewear e não anda de skate? Se não traz nenhum mal ou demérito para nós, não consigo entender porquê não relaxar e deixar as pessoas serem livres para usar o que elas bem entenderem... Na real, acho um tanto sem sentido essa perda de tempo e energia de ficar cuidando da vida dos outros. Eu prefiro gastar esse tempo e energia no meu rolê, me divertindo!
É claro que apenas usar roupas de skatista não vai te fazer propriamente um skatista. Assim como saber mandar 157 tricks diferentes no corrimão também não te transforma num skatista. Porque ser skatista é bem diferente de ser praticante de skateboarding. Envolve muito mais coisa, mas aí eu já vou começar a divagar sobre outro assunto, e quem sabe a gente até fale disso em um próximo texto. Voltemos ao que estávamos falando: os malditos posers.
Outra coisa que eu até acho engraçada é essa galera chamar alguém de poser por carregar o skate segurando pelo truck. Se o skate é meu, eu seguro da maneira que eu me sentir confortável, oras! Ou vão me dizer que isso é proibido pelo artigo 3, alínea “b” do capitulo “Como Carregarás teu Skate” no Livro de Ouro das Regras do Skateboarding?
O mesmo vale para aquelas pessoas que chegam na pista com uma baita nave embaixo do braço, sentam no skate e ficam de resenha.
Quem sabe pelo quê esta pessoa está passando naquele dia? Pode ser que não esteja fisicamente bem, ou tenha tido um dia pesado no trabalho, e ao invés de ir direto pra casa resolveu ir para a pista só pra encontrar a galera e ficar de papo, dar uma arejada na cabeça – o que sim, faz parte da nossa cultura.
Então (e aqui eu me dirijo aos que ainda fazem isso), acho que já dá para parar de julgar e estigmatizar os outros pela maneira com que se vestem, ou como carregam o skate, ou se têm um carrinho de $3k e não sabem muitas tricks e etc, né? Mais uma vez: foca essa energia em melhorar teu rolê, ou em vibrar por alguém do teu lado que acertou uma trick nova, enfim, em se divertir!
Claro que ainda vai sobrar aquela pequena parcela de amargos, que se acham no direito de ditar regras de conduta e até de moda, e vão sempre ficar achando que só um skatista pode usar roupas de marcas de skate, ou que se deve carregar o carrinho de tal maneira, por que é a “certa”… mas estes a história se encarrega de esquecer!
Max Rivera Skatista oldschool, anda de skate por puro amor ao carrinho. Criador da Lisco Skateboarding Co. e entusiasta do skate feminino. Vive o skate no seu dia a dia, entusiasta do skate for fun, antes de mais nada. Porque a base de tudo ainda é aquela session com a galera, a resenha, as risadas e a diversão. A evolução e as tricks são consequência. . |