Texto: Ratones
Ratones é Artista Plástico e Ilustrador, Skatista desde 1985 e idealizador do Skate das Antigas.
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A história do SKATEART, começa no início dos anos 70, com Wes Humpston, o criador da Dogtown e Bulldogs Skates, muito antes, no passado, quando o skate começou por volta da década de 50, o visual dos primeiros skates, tinham uma arte bem simples, em sua maioria apenas o nome da marca, ou imagens que lembravam o Surf.
Eram desenhos até que um tanto inocentes, se comparados ao que o visual do skate se tornaria mais tarde.
É claro que, esse termo “Skateart”, veio depois, mas, antes mesmo de ter essa nomenclatura, artistas como Jim Phillips por exemplo, já desenhavam, no começo dos anos 60 ele já atuava, como surfista, suas artes eram sempre carrões com pranchas de surf em cima, seguindo sempre essa linha.
Mais tarde foi criando sua própria identidade, criando desenhos que marcaram a história, como o “Screaming Hand”, os shapes do Rob Roskopp, e até o logo da marca Independent Trucks.
Jim Phillips criou toda a identidade da marca Santa Cruz, que persiste até hoje, mesmo tendo outros artistas desenhando para a marca, Jim e seu filho Jimbo continuam dando a cara para a marca, reforçando o seu DNA.
Mas com a arte de Wes Humpston, o skate começou a criar uma identidade, cada vez mais, se distanciava do Surf, tido como o “Pai do skate”, a arte começava a ter uma agressividade, mostrar o radicalismo que o skate trazia, suas manobras e skaters como Jay Adams e Tony Alva, mostravam que o skate era muito mais “radical” que o surf.
Nesse momento, o skate mostrava sua cara, desenhos de caveiras, águias e flames, começavam a criar um estilo, os skaters lançam seus primeiros promodels, com seu perfil, sua identidade.
A Skateart começou mesmo a ficar popular na virada de década de 70 para 80, os desenhos da Powell & Peralta eram incríveis, e outros artistas começaram a se destacar como Courtland Johnson, o próprio Jim Phillips, Pushead, Bernie Tostenson entre outros.
No meio dos anos 80, isso se tornou tão forte e evidente, que nós comprávamos os shapes olhando primeiro pra arte, depois o model, concave largura, etc.
Era inevitável usar os grabbers, para não zoar o desenho, cada shape nessa época era uma obra de arte, e , apesar de grandes artistas de fora terem causado todo esse alvoroço, tivemos grandes nomes aqui, como o de Billy Argel, que foi talvez o principal nome da nossa Skateart, pois ele desenhou para grande parte das marcas brasileiras nesse período (Lifestyle, Urgh!, Narina) e muito mais.
Tivemos também o Roberto Peixoto, que desenhava para a extinta marca H.Prol. que também marcou uma época da arte no Brasil.
Surgiram vários nomes, e com grande representatividade, agora já chegando nos anos 90, tivemos o Speto, Binho, Magoo, caras que deram a cara para o skate no Brasil nessa década.
Infelizmente, na metade dos anos 90, o skate foi mudando o visual, chegou a tal da logotipia, quase que extinguindo a arte dos shapes, nesse momento os skates vinham em sua maioria só com o nome da marca embaixo, dos dragões e caveiras, migramos para imagens de Graffiti, elementos do Hip Hop, Boom box e imagens da época.
Mesmo mudando a sua estética, continuava firme a Skateart até o final dos anos 90, na entrada dos anos 2000, aí sim veio forte aquela imagem só de Logos e os nomes das marcas.
Aquele sentimento que a gente tinha de comprar um shape pelo seu desenho, foi se perdendo com o tempo, pela arte e pelo formato do shape, que agora eram todos iguais, identificado pela bolacha de Maizena, perderam totalmente a personalidade.
Mais precisamente em 2009, aconteceu algo muito relevante para a Arte dos skates no Brasil, o artista e vocalista da banda Garage Fuzz, Alexandre Cruz, o “Sesper”, organizou o Reboard, um evento que juntou uma coleção imensa de shapes, com a parceria de vários colecionadores, shapes desde a década de 70 até 2000.
Um marco para a história recente do skate no Brasil. Exposição de shapes e um filme enriqueceram esse evento memorável, que foi um divisor de águas na Skateart do Brasil.
Tive o prazer imenso de fazer parte do documentário e expor alguns trabalhos meus no Reboard, eu como designer, já havia quase que desistido de manter a chama acesa da arte nos shapes, já estava desenhando para várias marcas de skate no Brasil, mas em sua maioria, queriam os desenhos simples, Logotipos, queriam só seguir a “tendência”, nada do que aprendemos na escola mais Oitentista do skate mundial.
Acredito que após o Reboard, marcas, artistas, voltaram os olhos novamente para a essência do skate, a arte mais elaborada, mais trabalhada, com mais cores, mostrando o que realmente era o skate de décadas atrás.
Em 2015 tivemos uma visita ilustre no Brasil, o artista Jimbo Phillips, filho de Jim Phillips, esteve por aqui, trazendo sua arte, rolaram várias tardes de autógrafos e marcou presença por aqui grandemente.
Já chegando aos dias de hoje, tiveram também algumas mostras de Skateart no Brasil no mundo todo, o shape se tornou um ótimo suporte para a arte, tendo exposições ao redor do mundo e invadindo as grandes galerias de arte. Por aqui, teve um trabalho bem bacana do artista Marcelo Fokinha, que organizou exposições com vários artistas como Ratones, Magoo, Daniel One, Jimbo Phillips, Chris Dyers e um time seleto de artistas.
Aconteceu também outro evento muito importante organizado pelo Old Skater Paulo “Anshowinhas”, realizado na Unibes em São Paulo em 2017, trazendo exposições, documentários e talks falando sobre Skateart no Brasil, mercado e tudo que envolve o skate em sua essência.
É muito legal ver que a arte teve uma retomada nos últimos tempos, a marca Santa Cruz por exemplo, mantém sua identidade desde os anos 80, sua linha de desenhos continua, muitos shapes antigos sendo relançados, no Brasil e fora dele, tanto marcas nacionais, quanto as de fora, trazendo de volta os shapes clássicos, mostrando o quanto é legal ver a arte nos decks.
No final de 2019, o Canal OFF, lança um documentário chamado “Arte sobre rodas”, trazendo e revelando grandes artistas, vale muito a pena conferir e conhecer muitos artistas que tem feito arte no Brasil.
Não podemos deixar a arte se perder com o tempo, claro que mudou o conceito e a visão dos skatistas de hoje em dia, e está tudo ok, mas a arte sempre fez parte do skate e sua expressão como um todo, sem a arte, sem os desenhos que representavam a identidade dos skatistas, tudo seria muito sem graça, não haveria a sua representatividade que é tão importante.
Há também vários skaters que são artistas também, Mark Gonzales, Ed Templeton, Steve Caballero, Kris Marcovich, Lance Mountain, John Lucero, aqui no Brasil temos o Marcelo Barnero, Sesper, Klaus Bohms, Ratones, Magoo, Felipe Mota e a lista é grande.
Nos dias atuais temos grandes nomes na Skate Art, como Todd Francis, que esteve no Brasil em 2018, Margaret Kilgallen, Greg Mike, Evan Hecox, Andy Mueller e muito mais.
O modo de se expressar através da arte é essência do skate, vamos valorizar o artista e manter acesa a chama da Arte sobre as 4 rodinhas.
Skate é expressão, é o olhar diferente sobre a estrutura das ruas, é o questionamento, a liberdade de mostrar quem você é através das manobras, se o skate perder essa “essência”, deixa de ser skate.
É a arte como ação transformadora.
Dicas de livros:
“Bulldogs Art by Wes Humpston”
“ Surf Skate & Rock Art of Jim Phillips”
“Disposable” A history of Skateboard Art